Sala Vazia

Sinto-me a pensar, a repousar sobre essa sala vazia com vontade de escrever algo que seja de grande valia.

Mais o que dizer de uma sala vazia?

Porém irei a contestar-te, alegando que há sim o que falar sobre o vazio do quarto em que me posto. Posso falar do seu chão revestido de granizo e das milhares de marcas de arranhados em seu corpo, mostrando que a sala vazia não é decerto vazia.

Vejo uma folha de papel amassada em formato de bolinha, sim daquelas que costumávamos fazer na escola para atirar nos colegas e simular uma guerra, vejo também alguns lápis de cor espalhados pelo chão, o que me leva a crer que ali me localizo num ambiente escolar ou permanentemente frequentado por crianças.

Ouço vozes, risos. São muitos falando ao mesmo tempo. É a esperança. É a voz de uma criança, ou de várias delas, criaturas que são um mundo inteiro dentro de um ser só, um livro de um eterno aprendizado e em uma busca de entendimento e sabedoria maior que podemos compreender. O passado, o presente e o futuro de todos nós e que nos é de uma sinceridade e ingenuidade inquestionáveis.

Percebo seus sonhos, suas vontades, apenas olhando para aquela sala vazia. As paredes rabiscadas e o chão marcado mostram por onde andaram, pra onde foram pra que vieram e pra onde irão.

Então a sala se enche. Não de pessoas, não de coisas, não de crianças.

Mais de sonhos.

Tão logo uma sala vazia deixa de ser por si só uma sala vazia e passa a ser uma sala de sonhos.

Sinto-me a pensar, a repousar sobre essa sala de sonhos com vontade de escrever algo que seja de grande valia suponho.

Mais o que dizer de uma sala de sonhos?